quinta-feira, novembro 30, 2006

Poema destinado a haver domingo

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.


Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.


Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.


Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre


Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.


Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote
1999

terça-feira, novembro 28, 2006

Mário Cesariny de Vasconcelos

YOU ARE WELCOME TO ELSINORE

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar

do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

De Pena Capital, 1957


Mário Cesariny, «You are welcome to Elsinore» in Século de Ouro. Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do Século XX
Organização de Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra
Braga/Coimbra/Lisboa: Angelus Novus & Cotovia, 2002
pp.280-281


quarta-feira, novembro 08, 2006

Este blog está lançado ! É oficial !

The Vicentinas Connection

Missão : Instituição dedicada à conspiração de um chá das 5h, no âmbito do Portugal provinciano. Tem como missão não relatar, não delatar e contar tudo como uma boa vizinha de bairro, através da edição ocasional de comentários que actuam como centro pluridisciplinar vocacionado para a educação e animação ambientais e de um centro de reflexão e debate sobre a sociedade contemporânea, sempre na melhor tradição pequeno burguesa (claro está!).

terça-feira, novembro 07, 2006

Portugal em Resumo

Na internet surgem resumos tão redudantes ou militantes de ideias feitas e desadequadas. Eis dois exemplos:
" Portugal emerged as a country in 1143, after a 15 year rebellion by Dom Afonso Henriques (Afonso I). Afonso Henriques defeated his mother Countess Teresa of Portugal, regent of the County (Condado) of Portugal and loyal to the Kingdom of Leon at the battle of Sao Mamede (Batalha de Sao Mamede) near the town of Guimaraes, in June of 1128. Countess Teresa was imprisoned and exiled by her son, and died in 1130. Guimaraes is therefore known as the birthplace city of Portugal.
However the true test of an independent nation did not happened until 1385 when Joao Mestre de Avis (John of Avis) with the help of legendary supreme constable Nuno Alvares Pereira defeated the Castiliansat the epic Aljubarrota battle where the Castilians outnumbered the Portuguese 6:1. John I (Dom Joao I) was crowned King of Portugal. John I along with his sons, Duarte (to became the King in succession), Henry The Navigator, and Afonso started the "Golden Decades" of worldwide discoveries (15th and 16th centuries).
Following its heyday as a world power during the 15th and 16th centuries, Portugal lost much of its wealth and status with the destruction of Lisbon in a 1755 earthquake, occupation during the Napoleonic Wars, and the independence in 1822 of Brazil as a colony.
A 1911 revolution deposed the monarchy with the decapitation of King Manuel I and his son.
For most of the next six decades, repressive governments ran the country. Antonio Salazar a right wing fascist ran the country with an iron fist and a austere economic plan which slowly buried Portugal deeper and deeper on its third world status within Europe. Salazar also held on to the colonies of Angola, Mozambique and Guinea, having contributed not just to the deplorable state of those Countries, but also to a colonial wars which killed hundreds of thousands of Portuguese man.
In 1974, a left-wing military coup installed broad democratic reforms, which had the opposite effect. Too much freedom too quickly placed the country in total "democratic chaos" with union bosses, corrupt politicians, and left-wing and right-wing extremists taking turns on plundering the country, with disastrous economic and labor plans. Starting in 1976 Portugal granted independence to all of its African colonies, and a wave of refugees were poorly assimilated on a society that does not value ethnicity to this day.
After successive governments led by communists, socialists and social-democrats continue its miss-management of Portugal, at last the social-democratic government of Prime-minister Cavaco da Silva brought prosperity and double digit economic growth in the late 80's and early 90's. It helped that the Portugal joined the EC in 1986. Joining the EC, gave the country a boost with a flurry of grants and investments that contributed to new roads, and overall upgrade of a dilapidated infrastructure.
However with the disastrous miss-management of the Socialist government of Prime-minister Antonio Guterres, and the Social-democratic government of Prime-minister Jose Manuel Barroso (promptly promoted to President of the European Commission) and his successor Santana Lopes, the country embarked on a 0% growth rate with a growing economic deficit. Added to this is the cessation of funds from the EC without a source of replacement.
In 2005 President Sampaio dismissed the government and called new elections. The Socialists were brought to power with the majority of vote and new Prime-Minister Jose Socrates impact remains to be seen. Portugal is currently in economic crisis with 0% economic growth rate and projections that, if accounting for the fluctuation of interest rates set by the central bank, will be negative in 2006.
Mario Soares, a popular Prime-Minister and President decades ago, came out of retirement to run for President in 2006 against his political nemesis Cavaco da Silva. Cavaco da Silva soundly beat Soares becoming the current president of Portugal.
Portugal is a founding member of NATO."
"Com uma fronteira tão extensa para o mar, não admira que tenhamos assistido a muitos desembarques e embarques. Por isso tornámo-nos desde há muito abertos ao mundo e à comunicação.Absorvemos gentes de variadas origens: Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos (que nos deixaram a língua que falamos), povos nórdicos e povos da Mauritânia.Apesar de tantas misturas, o nosso País é dos mais antigos da Europa. No séc. XII tornou-se independente dos outros reinos peninsulares graças ao conde Afonso Henriques que foi nosso primeiro rei por sua vontade própria. Um século mais tarde, com a conquista do Algarve, Portugal acabava de desenhar a sua fronteira continental.Em finais do séc. XIII o rei D. Dinis criou a nossa Universidade, uma das mais antigas da Europa, e levou-a para a bela cidade de Coimbra. Nos sécs. XIV, XV e XVI fomos os primeiros europeus a navegar até África, ao longínquo Oriente e às profundezas do continente Sul Americano, donde trouxemos uma montanha de raridades. Ainda antes de prosseguirmos pela costa de África, encontrámos os arquipélagos dos Açores e da Madeira, que são parte do nosso território no Atlântico. Depois de uma crise dinástica que nos colocou sob o trono de Espanha, em 1640 voltámos a ter um rei português porque, embora discretos, temos um grande sentido de independência. No séc. XVIII, D. João V, rei absolutista e amante das artes, mandou construir o imenso palácio-convento de Mafra, e o grande Aqueduto que conduziu a água à cidade de Lisboa. No séc. XIX, lutas partidárias enfraquecem a Monarquia, que acaba por cair em 1910, ano em que se implantou a República. Somos parte da UE desde 1986, mas continuamos a valorizar as nossas virtudes próprias. Com esta História, vai ver que a nossa Arte é um pouco diferente daquela que já conhece. Repare sobretudo nas manifestações que nos são peculiares: no "Manuelino", exaltação da época das Descobertas, na forma como soubemos trabalhar a arte do azulejo e no nosso Fado, canção de nostalgia."